811Lumen Gentium - O Mistério da Igreja (Nº 1 a 8)
A Igreja é o “Reino de Cristo já presente em mistério” (LG 3), “povo unido pela unidade do Pai e do Filho e do Espírito Santo” (LG 4).
O primeiro capítulo desta constituição explica-nos: O Mistério da Igreja, tendo os números abaixo indicados:
- N.º 1 A IGREJA COMO SACRAMENTO
A Igreja é o “sacramento” de Cristo. “ A Igreja, em Cristo, é como que o sacramento, ou sinal, e o instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o género humano…”
Daí o objecto desta constituição é procurar pôr de manifesto com maior insistência, aos fiéis e a todo o mundo, a sua natureza (Povo de Deus) e a sua missão (presença de Cristo).
As condições do nosso tempo torna urgente este dever da Igreja, para que os homens todos, hoje mais estreitamente ligados uns aos outros, pelos diversos laços sociais, técnicos e culturais, alcancem também a plena unidade em Cristo.
- Nº 2 NASCE DA VONTADE SALVÍFICA DO PAI
Deus Pai quis desde o inicio que os homens participassem na Sua vida divina, chamando-os à Santa Igreja:
“O eterno Pai, criou o universo, decidiu elevar os homens à participação da vida divina, uma vez caídos, não os abandonou, uma vez caídos, em atenção a Cristo Redentor, sempre lhes concedeu os auxílios para se salvarem.”
“Aos que crêem em Cristo, (o Pai) decidiu chamá-los à Santa Igreja, a qual, prefigurada já desde o princípio do mundo e admiravelmente preparada na história do povo de Israel e na Antiga Aliança, foi constituída no fim dos tempos e manifestada pela efusão do Espírito Santo, e será gloriosamente consumada no fim dos séculos.”
Podemos assim concluir que a Igreja nasce da vontade Salvífica do Pai.
- Nº 3 A IGREJA: MISSÃO E OBRA DO FILHO
Jesus, a fim de cumprir a vontade do Pai, deu começo na terra ao Reino dos Céus e revelou-nos o seu mistério
“A Igreja, ou seja, o Reino de Cristo já presente em mistério, cresce visivelmente no mundo pelo poder de Deus.
Sempre que no altar se celebra o sacrifício da cruz, na qual «Cristo, nossa Páscoa foi imolado», realiza-se também a obra da nossa redenção. “
Pelo sacramento da Eucaristia, é ao mesmo tempo representada e se realiza a unidade dos fiéis, que constituem um só corpo em Cristo (1cor.10,17). Todos somos chamados à união com Cristo, luz do mundo, do qual vimos, por quem vivemos, e para o qual caminhamos.
- Nº4 ESPÍRITO SANTO: SANTIFICADOR E VIVIFICADOR DA IGREJA
O Espírito Santo habita na Igreja e nos corações dos fiéis, como num templo (cf 1 Cor 3,16; 6,19), e dentro deles ora e dá testemunho da adopção filial (Cf. Gál 4, 6)
“Consumada a obra que o Pai confiou ao Filho para Ele cumprir na terra, foi enviado o Espírito Santo no dia de Pentecostes, para que santificasse continuamente a Igreja e deste modo os fiéis tivessem acesso ao Pai, por Cristo, num só Espírito.”
A Igreja que Ele conduz à verdade total e unifica na comunhão e no ministério, enriquece-a e guia-a com diversos dons hierárquicos e carismáticos, e adorna-a com os seus frutos.
Por força do Espírito Santo podemos dizer que a Igreja é carismática, portadora e medianeira de carismas. Não há ninguém na Igreja que não possua carismas, estes são diferenciados e variados, dependentemente da pessoa que os recebe. Todos os carismas são dados em ordem ao Serviço.
Carismas existentes na Igreja: Ministério Ordenado (Bispos, Presbíteros, e Diáconos), Apóstolos, Profetas e Doutores;
Catequistas, Leitores e Ministros da Comunhão;
Acólitos e Cantores;
Religiosos e Leigos,…
A Igreja toda aparece como “um povo unido pela unidade do Pai e do Filho e do Espírito Santo
- Nº 5 IGREJA = REINO DE DEUS
Jesus deu início à Igreja pregando a Boa Nova do Advento do Reino de Deus, prometido desde há séculos nas escrituras: «cumpriu-se o tempo, o Reino de Deus está próximo»
“Este Reino manifesta-se na palavra, nas obras e na presença de Cristo.”
- A Palavra de Deus compara-se à semente lançada ao campo:
«O semeador semeia a palavra. Os que estão ao longo do caminho são aqueles em quem a palavra é semeada; e, mal a ouvem, chega Satanás e tira a palavra semeada neles. Do mesmo modo, os que recebem a semente em terreno pedregoso, são aqueles que, ao ouvirem a palavra, logo a recebem com alegria, mas não têm raiz em si próprios, são inconstantes e, quando surge a tribulação ou a perseguição por causa da palavra, logo desfalecem. Outros há que recebem a semente entre espinhos; esses ouvem a palavra, mas os cuidados do mundo, a sedução das riquezas e as restantes ambições entram neles e sufocam a palavra, que fica infrutífera. Aqueles que recebem a semente em boa terra são os que ouvem a palavra, a recebem, dão fruto e produzem a trinta, a sessenta e a cem por um.» (Mc 4, 14-20)
…aqueles que a ouvem com fé e entram a fazer parte do pequeno rebanho de Cristo já receberam o Reino.
- Também os milagres de Jesus comprovam que já chegou à terra o Reino
“Se lanço fora os demónios com o poder de Deus, é que chegou a vós o reino de Deus” (Lc 11, 20)
- Mas este Reino manifesta-se sobretudo na própria pessoa de Cristo, Filho de Deus e Filho do homem, que veio «para servir e dar a sua vida em redenção por muitos» (Mt 10, 45).
Tendo Jesus sofrido pelos homens a morte da cruz, ressuscitou, apareceu como Senhor e Cristo e sacerdote eterno e derramou sobre os discípulos o Espírito prometido pelo Pai.
A Igreja, enriquecida com os dons do seu fundador, recebe a missão de anunciar e instaurar o Reino de Cristo e de Deus em todos os povos e constitui o germe e o princípio deste mesmo Reino na terra.
- Nº 6 AS FIGURAS DA IGREJA
“Assim, como no AT, a revelação do Reino é muitas vezes apresentada em imagens, também a natureza íntima da Igreja nos é dada a conhecer por diversas imagens tiradas quer da vida pastoril ou agrícola, quer da construção ou também da família e matrimónio…”
À Igreja é atribuída várias imagens:
- A Igreja como o redil e também rebanho,
A Igreja é o redil, cuja única porta e necessário pastor é Cristo:
“Em verdade vos digo que eu sou a porta das ovelhas” (Jo 10,7)
“Eu sou a porta, se alguém entrar por Mim será salvo” (Jo 10,9)
É também o rebanho do qual o próprio Deus predisse que seria o pastor:
“Assim fala o Senhor Deus: Eis que Eu mesmo cuidarei das minhas ovelhas e me interessarei por elas. Como o pastor se preocupa com o seu rebanho…assim me preocuparei Eu com o meu.” (Ez 34, 11-12)
Onde as ovelhas, ainda que governadas por pastores humanos, são guiadas e alimentadas pelo próprio Cristo, Bom Pastor:
“O bom Pastor dá a vida pelas suas ovelhas” (Jo 10, 12)
- A Igreja é a agricultura ou o campo de Deus
A Igreja é a agricultura ou o campo de Deus:
“somos cooperadores de Deus; vós sois cultura de Deus, sois edifício de Deus” (1Cor 3,9)
Cristo é a verdadeira videira que dá vida e fecunda os sarmentos, isto é, a nós que pela Igreja permanecemos n`Ele sem o qual nada podemos fazer:
“Eu sou a videira verdadeira e o meu Pai é o agricultor. Ele corta todo o ramo que não dá fruto em mim e poda o que dá fruto, para que dê mais fruto ainda. Vós já estais purificados pela palavra que vos tenho anunciado.
Permanecei em mim, que Eu permaneço em vós. Tal como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, mas só permanecendo na videira, assim também acontecerá convosco, se não permanecerdes em mim. Eu sou a videira; vós, os ramos. Quem permanece em mim e Eu nele, esse dá muito fruto, pois, sem mim, nada podeis fazer.” (Jo 15, 1-5)
- A Igreja chamada construção de Deus
A Igreja também é muitas vezes chamada construção de Deus:
“somos cooperadores de Deus; vós sois cultura de Deus, sois edifício de Deus” (1Cor 3,9)
O próprio Jesus se comparou à pedra que os construtores rejeitaram, e que se tornou pedra angular:
“Jesus disse-lhes: «Nunca lestes nas Escrituras: A pedra que os construtores rejeitaram transformou-se em pedra angular? Isto é obra do Senhor e é admirável aos nossos olhos?” (Mt 21, 42)
Sobre esse fundamento é a Igreja construída pelos Apóstolos, e d’ Ele recebe firmeza e coesão. Esta construção recebe vários nomes: Casa de Deus; habitação de Deus no Espírito; tabernáculo de Deus; “Templo Santo”.
- A Igreja, chamada “Jerusalém do alto” e “nossa mãe”
A Igreja, chamada «Jerusalém do alto» e «nossa mãe» é também descrita como esposa imaculada do Cordeiro:
“Alegremo-nos, rejubilemos, dêmos-lhe glória; porque chegou o momento das núpcias do Cordeiro; a sua esposa já está preparada. ” (Ap 19, 7)
A qual Jesus amou e por quem se entregou, para a santificar, uniu a Si por um indissolúvel vínculo, e a qual alimenta e conserva, e que lhe está submissa no amor e fidelidade:
“Assim como a Igreja está sujeita a Cristo, assim o estejam também as mulheres a seus maridos em tudo” (Ef 5, 24)
- Nº 7 A IGREJA, CORPO MÍSTICO DE CRISTO
Jesus, vencendo, na natureza humana a Si unida, a morte, remiu o homem e transformou-o em nova criatura. Depois, comunicando o Seu Espírito chama todos os homens fazendo deles Seus irmãos, constituindo assim um corpo do qual Ele é cabeça: a Igreja.
É neste corpo que a vida de Cristo se difunde nos que crêem, unidos a Ele por meio dos sacramentos. Pelo Baptismo todos somos assimilados a Cristo, formando um só corpo:
“Todos fomos baptizados no mesmo Espírito, para sermos um só corpo, quer sejamos judeus ou gregos, servos ou livres…” (1 Cor 12,13)
A nossa participação mais real acontece na fracção do pão eucarístico, onde somos elevados à comunhão com Ele:
“Porque há um só pão, nós, que somos muitos, formamos um só corpo, visto participarmos todos do único pão” (1 Cor 10,17)
Assim como o corpo humano tem muitos membros, embora diferentes, formam um só corpo.
Também os fiéis, na edificação do Corpo de Cristo têm diversidade de membros e de funções.
É o mesmo Espírito que distribui os seus vários dons segundo a sua riqueza e as necessidades dos ministérios para utilidade da Igreja.
O mesmo Espírito, produz e promove a caridade entre os fiéis, daí se algum membro padece, todos os membros sofrem juntamente; se algum membro recebe honras, todos se alegram.
A cabeça deste corpo é Cristo. Ele é a imagem de Deus invisível, e n`Ele todas as coisas foram criadas.
O concílio pede-nos, pelas palavras de Paulo, que todos os membros se conformem com Ele, até que Cristo se forme em nós:
“Filhinhos…até que Jesus Cristo se forme em vós…” (Gal 4, 19)
“É por Ele que «o corpo inteiro, alimentado e coeso em suas junturas e ligamentos, se desenvolve com o crescimento dado por Deus» (Col. 2,19). Ele mesmo distribui continuamente, no Seu corpo que é a Igreja, os dons dos diversos ministérios, com os quais, graças ao Seu poder, nos prestamos mutuamente serviços em ordem à salvação, de maneira que, professando a verdade na caridade, cresçamos em tudo para Aquele que é a nossa cabeça (cf. Ef. 4, 11-16).”
Para que sem cessar nos renovemos n’Ele, deu-nos do Seu Espírito, sendo um e o mesmo na cabeça e nos membros, unifica e move o corpo inteiro.
Cristo ama a Igreja como esposa, fazendo-se modelo do homem que ama sua mulher como o próprio corpo, e a Igreja, é sujeita à sua cabeça.
- Nº 8 A IGREJA, SOCIEDADE VISIVEL E ESPIRITUAL
Ela é a realidade visível de Cristo, que continuamente a sustenta sobre a terra, por meio da qual difunde nos homens a verdade e a graça. Porém a sociedade organizada hierárquica, e o Corpo místico de Cristo, o agrupamento visível e a comunidade espiritual, não se devem considerar como duas entidades, mas como uma única realidade complexa, formada pelo duplo elemento humano e divino.
Ela é a única Igreja de Cristo, que no Credo confessamos ser una, santa, católica e apostólica, governada pelo sucessor de Pedro e pelos Bispos a ele unidos.
Esta Igreja, constituída e organizada neste mundo como sociedade, é na Igreja católica, em união com Ele, se encontram muitos elementos de santificação e de verdade, os quais impelam para a unidade católica.
Uma Igreja que, embora contendo pecadores no seu seio e necessitando de purificação, deseja a santificação de todos os seus membros.
E tal como Cristo realizou a obra da redenção na pobreza, assim a Igreja é chamada a seguir pelo mesmo caminho para poder comunicar aos homens os frutos da salvação.
Cristo Jesus “que era de condição divina… despojou-se de si própria tomando a condição de escravo (Fil. 2, 6-7) e por nós, “sendo rico, fez-se pobre”(2Cor 8,9), assim também a Igreja, embora necessite dos meios humanos para prosseguir a sua missão, não foi constituída para alcançar a glória terrestre. Cristo foi enviado pelo Pai “a evangelizar os pobres…. a sarar os contritos de coração” (Lc 4,18). A Igreja de igual modo, a Igreja abraça com amor todos os aflitos.
Enquanto Cristo não conheceu o pecado, a Igreja, contendo pecadores no seu próprio seio, simultaneamente santa e sempre necessitada de purificação, exercita continuamente a penitência e a renovação.
A Igreja prossegue a sua peregrinação no meio das perseguições do mundo e das consolações de Deus, anunciando a cruz e a morte do Senhor até que Ele venha (Cf. 1Cor 11, 26)
O Mistério da Igreja, …manifesta-se na sua fundação: em Cristo Jesus, Luz dos povos. Nasce por vontade do Pai, por obra do Filho, e na assistência do Espírito Santo. Ela é acção da Trindade em favor dos homens, em ordem à salvação destes.
Nela, todos nós somos membros activos, colaborando uns com os outros para a plena edificação do Corpo místico do Senhor, do qual Ele mesmo é cabeça, para…
uma Igreja em comunhão!