A Sagrada Escritura sempre foi um tema
que despertou muito interesse ao longo de todos os tempos, incluindo durante o
tempo em que decorria o Concílio VATICANO II. A constituição Dei Verbum expõe uma
doutrina que tem valor normativo para a fé da Igreja. Pela Dei Verbum o Concílio
Vaticano II pretende propor a genuína doutrina acerca da Revelação Divina e da sua transmissão. Esta constituição não
surgiu do nada no Concilio mas é fruto de um caminho de amadurecimento que
levou anos, podemos mesmo contextualizar as origens do documento a partir do
tempo da Reforma, meados do sé. XVI, que encerrou o acesso fácil de todos os
crentes, não permitindo a tradução dos textos originais da Escritura para as
línguas comuns.
No séc. XIX, tentando dar resposta e
orientação aos estudos bíblicos em relação à Revelação Divina a Igreja escreve
Dei Filius, do Concílio Vaticano I, sobre a Revelação(1879). O Papa Leão XIII,
escreveu a encíclica Providentissimus Deus (1893), criação da Pontifícia
Comissão Bíblica (1902), no mesmo ano o Papa Bento XV publicou a encíclica Spiritus Paraclitus, o
Papa Pio XII escreve a encíclica Divino
Afflate Spiritus (1943). Um aprofundamento lento, mas que refletia
uma necessidade da Igreja: dar o devido valor à Sagrada Escritura, à Palavra ou
Verbo de Deus. Por ocasião do Concílio, chegaram a Roma 102 proposições que
foram selecionadas, agrupadas e aprofundadas pela comissão preparatória. Devido
à sua complexidade e após 104 intervenções, os padres conciliares pediram que
se parassem as discussões e que o esquema fosse reelaborado. O texto atual foi
promulgado a 18 de Novembro de 1965, após receber 2.344 votos a favor e seis
contra.
O maior objetivo do Concílio era
difundir a Palavra de Deus, em cumprimento ao desejo de Jesus Cristo que
anunciou «Ide pelo mundo inteiro e anunciai a Boa Notícia a toda a Humanidade.»
(Mc 16,15) Logo no Proémio destaca-se o objetivo de «propor a genuína doutrina
sobre a Revelação divina e a sua transmissão, para que o mundo inteiro,
ouvindo, acredite na mensagem da salvação, acreditando espere, e esperando
ame.» (DV 1)
A estrutura do documento é bastante
simples. É designada "constituição dogmática" porque expõe e discute
verdades doutrinárias, mais especificamente, aborda a complexa relação entre
Escritura e Tradição. O primeiro capítulo é sobre a Revelação. Descreve o
processo contínuo de comunicação entre Deus e o ser humano. Deus revela-se,
mostra-se, dar-se a conhecer ao homem. Deus manifestou a Sua vontade e a Sua
verdade diversas vezes ao longo da história com o objetivo de conduzir todos à
comunhão Consigo. Na plenitude dos tempos, revelou-Se de modo pleno e
definitivo através do Seu Filho, Jesus Cristo, o Verbo Encarnado. No prólogo de
João temos estes dados teológicos narrados: «No começo a Palavra [Verbo] já
existia: a Palavra estava voltada para Deus e a Palavra era Deus. [...] E a
Palavra fez-Se Homem e habitou entre nós.» (cf. Jo 1,1-18) Em poucas linhas a Dei Verbum concentra os
fundamentos de toda a Teologia da Revelação.
O capítulo II ocupa-se da transmissão
da Revelação divina. Confirma que o nosso acesso à Revelação acontece através
da pregação dos Apóstolos e dos seus sucessores. É a chamada Tradição, que se
origina nos Apóstolos e progride na Igreja sob a inspiração do Espírito Santo
(DV 8). A Tradição ajuda a compreender a Escritura, pois as duas estão
intimamente relacionadas, são dois pilares da fé cristã, provêm de Deus e
tendem ao mesmo fim: conduzir o homem a Deus.
A seguir o documento confirma que a
Sagrada Escritura foi escrita por mãos humanas, mas sob inspiração do Espírito
Santo. Para a interpretação da Bíblia é preciso ter em conta a sua inspiração
divina, os géneros literários, os estudos exegéticos e hermenêuticos e tudo o
mais que possa contribuir para um aprofundamento e melhor compreensão do texto.
Incentiva-se assim as pesquisas e estudos bíblicos, primeiramente por parte dos
pastores e pregadores, mas também de todos os cristãos, pois não é possível
amar o que não se conhece.
Os capítulos IV e V tratam respetivamente
do Antigo e do Novo Testamento. O Antigo Testamento contém um retrato da
história da salvação e serviu para preparar o advento de Cristo que veio
instaurar o Reino, como é descrito no Novo Testamento.
Por fim, vemos como a Sagrada
Escritura age na vida da Igreja. No capítulo VI está muito explícito o convite
ao aprofundamento da Palavra de Deus através da tradução da Bíblia para todas
as línguas, além do estudo e da investigação. A Escritura deve ser a alma da
Teologia (DV 24). De facto, a partir do Concílio a bíblica generalizou-se no
campo teológico e pastoral. A constituição Dei
Verbum deu origem a muitos outros bons frutos, tais como a
renovação bíblica a nível litúrgico, teológico e catequético; a leitura e
aprofundamento da Bíblia através do apostolado bíblico, com o aparecimento de
diversos grupos, movimentos e iniciativas; a grande difusão da Bíblia nas
famílias e em diversos ambientes sociais. A título de curiosidade, a Bíblia
está traduzida em cerca de 1.000 línguas e dialetos.
No quadro ao lado, estão os documentos
disponibilizados pelo Sínodo diocesano para reflexão e Estudo da Dei Verbum.
Fontes: Sitio ABC da catequese e o documento A Palavra de Deus na Vida e na Missão da Igreja
Sem comentários:
Enviar um comentário